Tuesday, November 29, 2005

Textos Externos nº1

Conto retirado do blog Instante Anterior:

Ontem fiz um programa de índio: Corcovado. Eu curto o Corcovado, essa foi a terceira vez que eu subi, que é até uma média razoável para quem mora na cidade. Lá em cima é lindo, sem igual, ótimo para tirar fotos incríveis e onda, por morar na cidade mais bonita do mundo. O problema foi o domingo. Na subida o trenzinho enguiçou nos primeiros 200 metros e a gente ouvia a conversa do condutor com a base pelo rádio "olha, tá saindo uma fumaça aqui, isso significa alguma coisa?" (juro que o cara falou isso). O outro respondia "ontem já saiu fumaça e tudo bem, prossegue e vê o que acontece". O pessoal começou a ficar tenso enquanto eu sentia um cheiro que era uma mescla de transformador de autorama com sovaco fedorento do alemão que estava na minha frente, temi o pior. Uns 15 minutos se passaram e nada, um calor descomunal, os alemães em frente a mim me cutucando toda hora com umas pernas gigantes incompatíveis com o espaço entre as fileiras de bancos, aliás, é difícil acreditar que aqueles caras fazem parte do mesmo filo que eu. O joelho de um deles era do tamanho de uma bola de futebol de salão, a coxa era do diâmetro do meu tórax! A gente naquela situação e eu, envergonhado perante meus convidados, tentava convence-los de que tudo se tratava de uma brincadeira, tipo uma atração da Epcot Center, que um homem vestido de macaco sairia da mata pra assustar as tias, mas não colou. Pra piorar um bichinho verde pousa no cabelo do gringo e, sem saber como avisar fico olhando ele se embrenhar naquela exótica mata loura, esse aí pelo jeito vai conhecer a Europa, deve estar lá dentro até agora. Tivemos que voltar lá pra baixo e pegar outro trenzinho, daí deu certo. Chegamos no topo e eu todo empolgado de guia "meus queridos, isso aqui é o Jardim de Alah, ali é Ipanema, do outro lado é Botafogo...". Também estava lá em cima um grupo de católicos fervorosos cantando e rezando, o guia com um megafone diz "...então finalmente estamos aqui, encontrando com o senhor..." será que eles perceberam que era uma estátua? Sacanagem... Bom, vi aquela coisa toda, tirei umas fotos, assisti àquelas sensacionais poses do pessoal que quer sair de braços abertos igual ao cristo ou que vem com aquela máquina fotográfica do Paraguai querendo enquadrar o cristo, a pedra da Gávea e a família ao mesmo tempo e na revelação se depara com a cintura do senhor e umas cabeças cortadas. Na volta desci de escadinha rolante e me senti todo feliz, orgulhoso de ser carioca, isso até descobrir que o trenzinho havia quebrado de novo. Tivemos que esperar mais de 40 minutos até sermos resgatados. Aí eu fiquei puto: os caras cobram 30 reais por esse serviço de merda? Como pode quebrar na subida e na descida? Quero meu dinheiro de volta! O calor insuportável, a fome, pensei em comandar um motim: amarrar a camisa na cabeça, pegar os funcionários que organizavam a fila como reféns e exigir a presença da governadora e um helicóptero até lá em baixo. Esperei, esperei e o trenzinho chegou, lembrei do filme Pague para entrar e reze para Sair. A cidade realmente é maravilhosa, mas eu to preferindo aqui de baixo mesmo.

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